O Natal Chinês

Há no conto O Natal Chinês de Maria Ondina Braga aquele instante em que a filha da senhora Tung asseverava que «o menino Jesus entristecia, em cima da cómoda, por causa da deusa na gaveta». O Menino Jesus vestia ricamente cabaia de seda encarnada, sapatinhos de veludo preto; a deusa, da fecundidade estava nua. Ambos de feições chinesas. Ele filho milagroso de uma maternidade virgem, ela atraía a doce vontade carnal do homem à sua companheira, como o Céu alagando a Terra na estação própria. Talvez daí a tristeza do Menino de Jesus, a ânsia de ter mãe, o desejo de ter sido gerado da substância física de um acto de amor.

Os reguladores do interesse

Irene Lisboa viveu a sua solidão num quarto na Rua de São Bernardo, em Lisboa. Num livro dedicado a algumas «Mulheres Escritoras», Maria Ondina Braga, da mesma família dos desesperados, párias dos afectos, cita-a, lembrando-a nos dois ou três homens que a beijaram, a desejaram passageiramente, «vários, inconstantes, elegantes, estetas, e simultâneamente práticos, reguladores do interesse».