A formiga laboriosa

Em tempos tive o sonho de conseguir ver editada a sua obra completa; ao mesmo tempo o de lhe escrever a biografia, não a da vida exterior, mas a da riquíssima vida interior. Os anos passaram e nada sucedeu. Fui a Braga, falei com familiares, consultei na Biblioteca Pública daquela cidade os registos que havia sobre o seu trabalho. Conversei com editores, aturei as maledicências de amigos que se imputavam mutuamente o abandono e o desinteresse quanto à sua pessoa. Comprei um a um todos os livros que escreveu. 
Talvez ainda seja capaz de realizar o que projectei. 
Nesta segunda-feira, ante as obrigações da profissão, os projectos de escrita a quem me comprometi, lembrei-me disso porque a minha amiga Teresa Guerreiro, formiga laboriosa na recolha amorosa do que é antigo, publicou uma sua fotografia. 
Não estou contente comigo. Pesa-me o que não fiz.