Auditório de cegos


Tem hoje lugar em Braga [ver aqui] um colóquio internacional dedicado a Maria Ondina. Lamento que a vida me tenha impedido estar presente como espectador. 
Desde há dez anos que mantenho este blog em sua homenagem. Desde há tantos anos almejo ver reeditada a sua obra. Supus mesmo que me seria permitido poder fazê-lo. Para isso fiz copiar na íntegra o seu primeiro livro em prosa, crónica de vida e de viagem, inaugurado com a chegada precisamente à cidade de Malanje onde nasci, livro hoje diria impossível de encontrar, mesmo em alfarrabistas. 
Houve tempos em que era uma escritora votada ao esquecimento. Hoje tem em torno de si estudiosos e eruditos, sem ter leitores porque os livros mal existem, esgotados que estão.
Estou a ler de novo toda a sua obra, que consegui pacientemente reunir, porque me pediram que em Dezembro, a poucos dias do Natal, falasse sobre quanto escreveu e quem foi, na Biblioteca Nacional. 
Á ilusão de que esta obra primordial pudesse acompanhar-me, sucede agora o desencanto. Falarei, pois, a haver assistência, como que para um auditório de cegos, que do livro saberão o que ouvirem dizer.